Sentada no meu sofá, vendo mais
um episódio de uma das séries que gosto de seguir, dei por mim a pensar nas
palavras ditas por um dos personagens: “Dormimos na mesma cama, partilhamos a
mesma mesa, vivemos ambos debaixo do mesmo tecto, mas somos apenas ilustres
desconhecidos”.
Poderia fazer minhas estas tão
duras palavras, adaptando as mesmas a uma realidade que me envolve e que
respiro. Já houve um dia em que partilhamos casa, cama e mesa mas nunca
partilhamos os sonhos, as insignificâncias e tudo o que é relevante. Poderia
até dizer que a nossa única partilha foram os corpos, mas nem na pele nos
conhecemos. Não sabemos cada ruga marcada no rosto, cada sinal desenhado na
pele, cada marca que o tempo deixou. O corpo unia-se de tempos a tempos, quase
como uma necessidade de não passarmos de desconhecidos a invisíveis. E ainda
hoje, quebrado o acordo de vivência entre as paredes de uma casa, são mais os
momentos em que mal nos olhamos, mal nos cumprimentamos, mal nos vemos...perfeitos
estranhos!
Hoje, continuamos sem saber
reconhecer a alegria no rosto, sem adivinhar a tristeza, sem saber de cor os
gostos e desgostos, a música preferida, a comida predilecta, os caminhos que
percorremos diariamente.
Hoje mais do que nunca o amor não
passa de uma miragem…e os anos passam e acabamos por perder o brilho do sol e
passamos apenas a sentir o calor doloroso a queimar dentro de nós!