quarta-feira, 13 de junho de 2012

Recomeçar



Por entre choros, lágrimas e dor nascemos, e nessa angustia respiramos também o riso, a alegria e a felicidade, como se todo o sentir fosse siames, impossível de ser separado. Estranhas simbiose que nos acompanha em todos os nossos passos, desde o primeiro sopro de vida, até que por fim mais nenhum ar entre em nossos pulmões.

Esta perfeita harmonia entre o bom e o mau, o branco e o negro, a luz e a escuridão, tatua todos os nossos movimentos, vive em nós como a sombra reflectida no chão.

Mas por mais que saíbamos que o dia não pode existir sem a noite continuamos a desejar que a vida seja perfeita, que os momentos de dor e lágrimas nunca façam parte do nosso mundo.

Quando a dor aperta e o desespero se faz sentir como chamas opulentas dentro de nós esquecemos que o tempo ditará novas rotinas e novas formas de encontrar a felicidade. No final de contas é isso que interessa, a busca pela felicidade ainda que tenhamos acabado de cair. 

E o coração continua a bater ao ritmo da vida, por vezes sangrando, outras vezes pulsando bem forte dentro do peito...Porque todos somos fragmentos de sentimento e pedaços de uma identidade formada em cima de sofrimento e de alegria, sempre prontos em cada amanhecer para voltar a viver, a sonhar...e a acreditar!

segunda-feira, 11 de junho de 2012

Saudade de um sonho



Tenho uma lágrima presa em meus olhos, que teima em querer sair. Tenho no peito a dor que me dilacera por dentro que insiste em explodir. Tenho medo de não mais saber sorrir. Não, não vou chorar, não não vou deixar a voz gritar este tormento. Vou apagar as luzes e deixar que esta sensação se dilua na escuridão. Fecho os olhos e sinto saudades. 

Saudades dos planos que nunca fizemos, dos sonhos impossíveis que na nossa vida nunca tentámos construir. Saudades das doces palavras que nunca ouvi, da vontade e do desejo de nos entregarmos de corpo e alma um ao outro que nunca existiu.  Tenho saudades do que nunca vivemos . Tenho saudades da nossa história que nunca aconteceu, dos segredos que nunca contamos. Tenho saudades das juras e das promessas que sempre foram mudas entre nós. Tenho saudades de um tempo que nunca foi, de um casamento qe nunca se realizou, dos filhos que nunca nasceram, da cama que só dividimos mas nunca foi preenchida. Saudades do futuro que não vivemos e que será vivido por outro alguém.  

Sem querer vou de encontro às lembranças.  Abro a caixa das recordações e de novo a saudade...vazio, apenas  vazio no fundo de madeira. De novo a saudade de  olhar a rosa já murcha que  nunca me deste sem eu esperar, do postal a dizer “sem ti a minha vida não tem sentido”  que nunca escreveste, saudade de um meio coração que deveria estar no meu pescoço pendurado e a outra metade no teu que nunca foi comprado. Saudade de recordar os lençois que nunca se cobriram de flores, das velas que se mantêm intactas e nunca foram compradas, de todas as loucuras que nunca tomaram forma...saudade de um amor que nunca existiu. Contenho as lágrimas, sufoco o grito e tranco a caixa...

domingo, 10 de junho de 2012

Circo sem tenda



Os sentimentos são por vezes o pior inimigo. Tapam os  ouvidos, os olhos ficam enovoados, a boca ganha vida gritando palavras que mais tarde pensamos “como é que eu disse aquilo”, transformam o nosso cérebro num ser à parte, dotado de personalidade própria. Deixamo-nos conduzir pela sensação de raiva, de ódio, de amor, de carinho. O nosso corpo deixa de ser nosso e passa a navegar nesse turbilhão de emoções que queima a pele e que nos faz agir feito marionetas comandadas por uma força superior.

E tudo em nós é emoção, mesmo quando vestimos a capa da frieza, mesmo quando mostramos ao mundo que somos feitos de um ferro que nada nem ninguém consegue perfurar. E é nesse escudo que nos escondemos, ferindo-nos para não ferir, calando para não gritar, sorrindo para não chorar.  

Há momentos que só nos apetece deixar explodir, que queremos abrir os pulmões e deixar sair todas as perguntas sem resposta, todos os pensamentos guardados, todas as dúvidas que sufocam como um veneno lento que nos mata todos os dias um bocadinho.

Mas é preciso calar, fingir, aprender os gestos e a forma da sociedade. Uma sociedade que não entendes, que repudias, que te causa por vezes naúseas, que te faz querer esconder, mas perante a qual te encontras nua e exposta, como um alvo iluminado.

É preciso dizer que se entente a hipócrisia, a mentira, a falsidade, o jogo do mais forte, as palavras que magoam, os gestos que ferem, as atitudes que criam chagas, um gosto de ti mas esqueço que tu existes...É preciso sorrir e ser gentil quando ouvimos alguém dizer que gosta de amarelo, mas tudo o que tem é vermelho.

E assim forçamos o sorriso e caminhamos sem saber para onde ir e como ir, tentando agir imitando os gestos, as palavras, as acções, guardando dentro de nós o mundo em que acreditamos,  para que não sejamos a aberração deste circo sem tenda e sem risos!

segunda-feira, 4 de junho de 2012

Amor a dois



Depois de alguns anos, de muitos risos e lágrimas, alegrias e tristezas, euforia e desilusão chegamos  a um estagio da vida em que as perguntas são cada mais, em que nos indagamos sobre o que fizemos até hoje, o que construímos, de onde viemos e para onde vamos.

Hoje dei por mim a perguntar-me o que nos faz sentir numa relação, o que nos faz sentir que pertencemos a alguém e que esse alguém nos pertence. Não no sentido de posse, mas no sentido de complemento de nós mesmo, uma extensão do nosso corpo, da nossa alma e do nosso coração.

Primeiro temos de gostar da pessoa que está ali ao nosso lado, sem isso nada mais pode existir. Mas para além do amor, amor de verdade e não aquele amor falso que existe nos dias de hoje, movido por interesses pessoais e egoístas, é necessário que uma relação nos faça sentir cem por cento à vontade com a outra pessoa: há vontade para concordar e discordar, há vontade quando os corpos se unem sem vergonha e sem medos, há vontade para contar os segredos mais sombrios, os sonhos mais loucos e os desejos mais insanos. Mas para isso é necessário que exista uma cumplicidade compartilhada e incondicional.

Uma relação tem que ter mãos dadas na ida ao cinema, no passei de carro, no café à beira mar. Uma relação tem também que ter entre-ajuda e apoio nem que seja enquanto um prepara o jantar o outro coloca a mesa. Gestos do dia a dia que criam intimidade.

Uma relação deve ter momentos de silêncios sem que nenhum dos dois se incomode ou se sinta constrangido. Tem que servir para estimular o que o outro tem de melhor, tem que nos fazer querer produzir, mas também nos fazer sentir maravilhosas mesmo de pijama e cara lavada.

Para que haja uma relação temos que nos sentir amparados nas nossas inquietações, para podermos confiar sem receios, para sabermos que existem diferenças entre nós mas que em momento nenhum essas diferenças magoam ou ferem ou outro. Tem que servir para rir e brincar, na rua e em casa....principalmente em casa a dois.

Uma relação tem que servir para acompanhar o outro ao médico, para repartir os problemas financeiros e cobrir as despesas um do outro em um momento de aperto. Tem acima de tudo que cobrir as dores um do outro num momento de tristeza e de dor, de compartilhar os risos e as vitórias.

Uma relação tem que servir para abrir uma garrafa de vinho e fazer amor pela noite dentro  e no fim  sentarmos e falarmos sem mentiras, sem enganos, sem jogos. Numa relação devemos estar abertos um para o outro e cientes que também devemos estar abertos para o mundo, para que juntos a estrada da vida seja um lugar mais verdejante e plano para percorrer!

domingo, 3 de junho de 2012

Os limites do amor!



Diz-me que segredos esconde a vida. Que pensamentos resguardam um coração. Que véu encobre a alma no qual eu camuflo a solidão. Despe-te de ti e vem…

Vem para junto de mim. Traz-me de novo as cores do arco-íris e com elas pinta o cinzento com o qual colori o meu mundo. Com beijos seca as lágrimas que nascem em meus olhos, fonte cristalina de uma saudade não mais desejada. Vem e faz-me esquecer a imagem do espelho que nada mais é que um reflexo sem vida, num traçado sem cor desenhado pela mão do medo. Não mais quero o grito mudo que me ensurdece na penumbra do meu quarto, a saudade que preenche os dias, a melancolia que de noite visita o meu leito e que me abraça num abraço frio, sem calor. Vem comigo caminhar na mesma estrada, partilha os meus sonhos que hoje vivem em mim e que em ti habitam.

Vem e sente o toque desejado, cala-me as palavras com o sabor do beijo tantas vezes ansiado, envolve o meu corpo com o ardor de teus braços e sente o doce aroma que nos inebria e envolve nesse ensejo…transporta-me para um mundo de cheiros, sabores e sentimentos em que o limite seja apenas os limites do amor!