segunda-feira, 1 de fevereiro de 2016

O dia em que saíste de mim



No passar dos minutos do relógio, revendo os passos dados numa estrada feita de sonhos e de pó, começamos a perguntar-nos pelos sonhos que não realizamos, pelas marcas que queríamos deixar mas que o vento apagou. Damos por nós olhando o infinito tentando encontrar o que eramos e percebendo que o ontem já não volta mais e que hoje somos um emaranhado de sentimentos, de emoções e de vivências do que vivemos ontem.

Hoje olho esse infinito e mergulho no ontem como se precisasse de asfixiar-te dentro de mim. Deixar que o ar te falte para que finalmente rasgues o meu corpo e, mesmo deixando o meu avesso em carne viva, me libertes de ti para que ambos possamos respirar.

Sei que há um dia em que finalmente tudo passa. Em que vais para a cama e adormeces profundamente, sem sonhos ou pesadelos, com o pensamento vazio e o coração ainda mais vazio. Em que irás derramar as derradeiras lágrimas de sangue e sal e irás acordar de manhã sem que o teu primeiro gesto seja pegar no telefone na ânsia de uma mensagem de bom dia. Sabias que o amor tem destas coisas? Abrimos os olhos e o pensamento voa de imediato de encontro aquela pessoa e a mensagem de bom dia é como um elixir de felicidade que nos acompanha por todo o dia. E todos os dias ela chegava…o som da mensagem que soava como o canto dos anjos…mas o som perdeu-se e eu ainda o procuro na bruma que me envolve.

Haverá um dia em que irei acordar de um sono sem pesadelos e que o grito mudo dentro do meu peito não irá mais ser ouvido. Em que irei olhar-me ao espelho e sorrir com o coração. Em que irei conseguir ouvir uma musica sem pensar em ti. Em que não irei mais saltar da cadeira quando o telemóvel tocar. Em que o teu cheiro não esteja mais na minha pele, que o teu gosto não seja mais o meu sabor preferido e que a tua voz não seja mais o acorde que mais quero escutar. Haverá o dia em que a dor adormece.


Hoje…olhando o infinito…queria que esse dia fosse agora!



sexta-feira, 29 de janeiro de 2016

No Palco da Vida



No vai e vem do dia, na correria entre o trabalho, a casa, os filhos e as obrigações deixamos de ter tempo para parar. Para refletir. Para apreciar o que o mundo nos oferece de bom. E neste ritmo alucinado esquecemos que a vida não é um palco que nos permite voltar atrás vezes sem conta e corrigir o que, mesmo sem querer, fizemos mal. De voltar a apreciar o primeiro sorriso dos nossos filhos, da alegria dos seus primeiros passos. Eles crescem. De voltar a sentir a intensidade do primeiro amor. De sentir o cheiro a café e a torradas na casa da avó porque a avó já partiu e não mais voltará a sorrir quando entramos ainda de pijama e ensonadas na cozinha.


Não, a vida não permite ensaios. Não permite a antevisão do futuro, nem corrigir as falas e as ações cometidas ao longo do tempo. Somos atores principais numa peça sem ensaios em que a estreia é o aqui e agora.

Não existe um guião pré definido que pode ser seguido à risca e que se a fala não soar ou a ação não envolver pode ser alterado e revisto e voltar depois a ensaiar a cena.

Não. A vida quer-se neste instante. A vida quer risco. A vida quer asas para voar e sonhos para realizar. A vida quer o sopro de ar fresco nas manhas de Primavera, o calor agreste das tardes de verão, as cores do fim de tarde do Outono e o arrepio na pele do frio do Inverno.

Não. A vida não é um palco em que nada se arrisca, em que as personagens sabem de antemão que o emprego foi conquistado, que o amor é correspondido e em que cada passo sabemos sempre onde ir e como irá ser desfecho final. Deixemo-nos então perder na cena real da vida para que possamos enfim ser encontrados por nós mesmos.

No palco da vida há que arriscar, há que aprender a cair e a levantar em cada desilusão. Aprender a entregar-nos e a aceitar que as lágrimas fazem parte do crescimento interior. Acreditar que o verdadeiro amor existe e que algures, entre palcos, encontraremos o abraço que será eterno e a alma que se fundirá com a nossa no encaixe perfeitamente imperfeito de dois seres!

domingo, 28 de setembro de 2014

Um dia!...



Um dia dou asas à minha revolta
Agarro na mochila e coloco mais um pouco de loucura
Mudo o cenário da solidão
Transformo futuro em passado
Esperança em saudade
Sonhos em Realidade
Lanço-me ao quatro cantos
Vou correr mundo a fora
Um dia hei-de soltar
as amarras que me prendem
Um dia eu me revolto!



segunda-feira, 27 de janeiro de 2014

Carta a Catherine - "As Palavras que nunca te direi"

Sinto a tua falta, meu amor, como sempre, mas hoje é particularmente difícil porque o oceano tem estado a cantar para mim, e a canção é a da nossa vida juntos. Quase consigo sentir-te a meu lado enquanto escrevo a carta, e consigo cheirar o aroma das flores silvestres que me faz sempre lembrar de ti. Mas neste momento, essas coisas não me dão qualquer prazer. As tuas visitas têm sido menos frequentes, e por vezes sinto como se a maior parte do que sou estivesse lentamente a dissipar-se. Estou a tentar, ainda assim. À noite quando estou sozinho, chamo por ti, e sempre que a minha dor parece ser maior, encontras constantemente maneira de voltar para mim. 

Ontem à noite, nos meus sonhos, vi-te no pontão perto de Wrightsville Beach. O vento soprava através do teu cabelo e os teus olhos retinham a luz pálida do Sol que se desvanecia. Fico espantado quando te vejo encostada ao parapeito. Tu és bela, penso, enquanto te vejo, uma visão que nunca consigo encontrar em mais ninguém. Começo a andar lentamente na tua direcção e quando, finalmente, te voltas para mim, reparo que outros têm estado a observar-te também. «Conhece-la?» perguntam-me em sussurros invejosos, e enquanto sorris para mim, respondo simplesmente com a verdade. Melhor do que o meu próprio coração.»

Paro quando chego perto de ti e envolvo-te nos meus braços. Anseio por esse momento mais do que qualquer outro. É a razão da minha vida, e quando tu retribuis o meu abraço, eu entrego-me a esse momento, em paz mais uma vez. Levanto a mão e toco suavemente na tua face e tu inclinas a cabeça e fechas os olhos. As minhas mãos são ásperas e a tua pele é macia, e interrogo-me durante um momento se vais afastar-te, mas claro que não o fazes. Nunca o fizeste, e é em alturas como esta que eu sei qual é o meu objetivo na vida. 

Estou aqui para te amar, para te segurar nos meus braços, para te proteger. Estou aqui para aprender contigo e para receber o teu amor em troca. Estou aqui para aprender contigo e para receber o teu amor em troca. Estou aqui porque não existe outro sítio onde possa estar.Mas depois, como sempre, a neblina começa a formar-se enquanto permanecemos juntos um do outro. É um nevoeiro distante que nasce do horizonte, e descubro que começo a ficar com medo à medida que ele se aproxima. 

Ele insinua-se lentamente, envolvendo o mundo à nossa volta, cercando-nos como que para evitar que fujamos. Como uma rolante, cobre tudo, fechando, até mais nada restar senão nós os dois. Sinto a minha garganta a começar a fechar e os meus olhos a encherem-se de lágrimas porque sei que são horas de partires. O olhar que me lanças naquele momento persegue-me. Sinto a tua tristeza e a minha própria solidão, e a dor do meu coração, que permanecera silenciosa só por um pequeno intervalo de tempo, torna-se mais forte quando tu me soltas. E então estendes os braços e dás uns passos para trás, desaparecendo no nevoeiro porque ele é o teu lugar e não o meu. 

Anseio por ir contigo, mas a tua única resposta é abanares a cabeça porque ambos sabemos que é impossível. E eu assisto com o coração a partir-se enquanto desapareces lentamente. Dou comigo a esforçar-me por lembrar tudo acerca daquele momento, tudo acerca de ti. Mas depressa, sempre demasiado depressa, a tua imagem desaparece e o nevoeiro recua para o seu lugar longínquo e eu fico sozinho no pontão e não me importo com o que os outros pensam quando baixo a cabeça e choro e choro e choro.

quarta-feira, 2 de outubro de 2013

De que são feitos os sonhos


Somos do tecido que são feitos os sonhos assim o dizia William Shakespeare...mas de que são feitos os sonhos...

Será que são feitos de esperança, da ilusão que pintamos desde o berço em que nascemos até aos dias de hoje em que caminhamos muitas vezes por estradas nunca antes imaginadas?

Serão os sonhos apenas uma forma de mentir, de enganar ao nosso eu interior que rivaliza constantemente com o nosso eu exterior que teima em seguir por insinuosos e montanhosos caminhos quando lá dentro gritamos e ansiamos pela maciez das verdes planices acariciando os nossos pés?

Talvez sejam feitos das histórias de encantar, dos livros que lemos na idade da revolta, das musicas que ouvimos ou daquela atriz que admiramos que protagonizou aquele filme que até hoje vive na nossa memória.

Ou quem sabe talvez sejam feitos de plasticina ou de barro para que possamos molda-los há medida que os vestidos deixam de nos servir e que os sapatos deixam de ser rasos e é-nos permitido sair à rua com aquele salto agulha que nos faz sentir mais gente. E enquanto o corpo cresce vamos dando forma aquela pasta maleável, invisivel aos olhares, apertando aqui, retirando ali, fazendo nascer mais sonhos, reestruturando outros, voltando a amassar os que no tempo estagnaram, numa busca interminável de um amor que nos complete, da profissão que que nos preencha, dos risos que nos fazem sentir bem, da amizade sincera que nos transforma em alguém melhor a cada dia...e nessa incessante busca para encontrar o derradeiro sonho da felicidade encontramos também os nossos pesadelos banhados por lágrimas, por dor, desilução, tristeza e uma enorme vontate de fechar os olhos e de novo regressar aquele tempo em que achavamos que os sonhos são nuvens de algodão doce e que tudo é possivel nesse mundo de fantasia.


De tudo isto são feitos os sonhos porque na verdade, somos mesmos feitos do tecido que são feitos os sonhos!

quarta-feira, 11 de setembro de 2013

O lado avesso do amor





“Sabemos quando alguem nos ama não pelo que a pessoa fala, mas sim pelo que faz”

Uma pequena frase constituida de simples palavras mas que alberga em si uma verdade inegável. O amor, por melhores intenções que as pessoas tenham, requer atitude e coragem para vivê-lo.

Não existe futuro numa relação quando um precisa de sentar-se calado esperando uma acção, algo que faça o universo avançar, algo que faça as peças girarem e se encaixarem. Amanha, sim amanha talvez...e o amanha chega e o amanha que era hoje vai sendo adiado continuamente, dia após dia, semana após semana, mês após mês. E um dia, num desses amanhas continuamente adiados, quem espera fica exausto com a dor, com o sofrimento, com o gesto que nunca chega, com o caminho não percorrido, com o mundo que não se move e que grita por mudança. E o amor morre. Não porque se deixou de amar mas porque o sofrimento não permite mais o viver à espera.

Viver à espera de uma escolha, viver à espera do “até acabar o curso”, “até que eu resolva a parte financeira”, “até que eu consiga separar-me”, “até que tenha um emprego”, ate que....até que nada aconteça. As escolhas são dificeis, os passos são dolorosos, o caminho é montanhoso mas a vida requer escolhas e decisões. São essas mesmas escolhas que nos fazem crescer e amadurecer. Um sentimento que não nos faz ter forças, um sentimento que não faz mover montanhas, que não nos permite mudar o curso do rio pode ser tudo, mas não é de certeza Amor.


Amor como Mário Quintana dizia “amor é quando a gente mora um no outro” e se um mora do lado de fora apenas um caminho é possivel: seguir em frente para um amor que esteja disposto a entrar para o lado do avesso de nós!

segunda-feira, 9 de setembro de 2013

Fechar a porta


O fechar a porta doi...

Doi por saber que nunca a ti cheguei. Doi por saber que nunca fui o alvo do café da manha com torradas com leite do dia e sumo de laranja com uma rosa vermelha colocada na bandeja, preparado com amor e carinho.

Nunca fui o calor do corpo na noite que acorda para embalar os sonhos. Nem por uma só vez fui a que esta ao teu lado no raiar do sol, nem tive o teu colo depois de um dia dificil, nem partilhei o riso de alegria ou o choro da desilução. Doi ver toda uma vida fugir-me por entre os dedos que nunca se entrelaçaram no aconchego do sofá.

Dói ainda mais saber que essa porta nunca esteve aberta, que tudo o que para trás ficou foi apenas uma miragem que se desenhou por uma pequena fresta de uma minuscula janela. Miragem essa que se esqueceu dos contornos dos corpos suados, da boca pedindo outra boca, de um coração batento em compasso com o outro coração, um ser fundindo-se em outro ser.

O trancar a porta doi e enloquece a alma que grita com tamanho furor que provoca o tombo do corpo que cai inerte nos despojos de um “se” que nunca se tornou real. E no som da fechadura, que range em agonia ao rodar da chave, passo a ser silêncio. Um silêncio embrulhado em saudades, num coração que se veste do avesso, cansado, ferido, machucado... por querer demais, por se sentir sosinho na madrugada fria...e no calar das palavras parto mesmo querendo ficar.


...e doi ainda mais saber que a deixaste fechar!