Sinto a tua falta, meu amor, como sempre, mas hoje é
particularmente difícil porque o oceano tem estado a cantar para mim, e a
canção é a da nossa vida juntos. Quase consigo sentir-te a meu lado enquanto
escrevo a carta, e consigo cheirar o aroma das flores silvestres que me faz
sempre lembrar de ti. Mas neste momento, essas coisas não me dão qualquer
prazer. As tuas visitas têm sido menos frequentes, e por vezes sinto como se a
maior parte do que sou estivesse lentamente a dissipar-se. Estou a
tentar, ainda assim. À noite quando estou sozinho, chamo por ti, e sempre que a
minha dor parece ser maior, encontras constantemente maneira de voltar para
mim.
Ontem à noite, nos meus sonhos, vi-te no pontão perto de Wrightsville
Beach. O vento soprava através do teu cabelo e os teus olhos retinham a luz
pálida do Sol que se desvanecia. Fico espantado quando te vejo encostada ao
parapeito. Tu és bela, penso, enquanto te vejo, uma visão que nunca consigo
encontrar em mais ninguém. Começo a andar lentamente na tua direcção e quando,
finalmente, te voltas para mim, reparo que outros têm estado a observar-te
também. «Conhece-la?» perguntam-me em sussurros invejosos, e enquanto sorris
para mim, respondo simplesmente com a verdade. Melhor do que o meu próprio
coração.»
Paro quando chego perto de ti e envolvo-te nos meus braços.
Anseio por esse momento mais do que qualquer outro. É a razão da minha vida, e quando tu retribuis o
meu abraço, eu entrego-me a esse momento, em paz mais uma vez. Levanto a
mão e toco suavemente na tua face e tu inclinas a cabeça e fechas os olhos. As
minhas mãos são ásperas e a tua pele é macia, e interrogo-me durante um momento
se vais afastar-te, mas claro que não o fazes. Nunca o fizeste, e é em alturas
como esta que eu sei qual é o meu objetivo na vida.
Estou aqui para te
amar, para te segurar nos meus braços, para te proteger. Estou aqui para
aprender contigo e para receber o teu amor em troca. Estou aqui para aprender
contigo e para receber o teu amor em troca. Estou aqui porque não existe outro
sítio onde possa estar.Mas depois, como sempre, a neblina começa a
formar-se enquanto permanecemos juntos um do outro. É um nevoeiro distante que
nasce do horizonte, e descubro que começo a ficar com medo à medida que ele se
aproxima.
Ele insinua-se lentamente, envolvendo o mundo à nossa volta,
cercando-nos como que para evitar que fujamos. Como uma rolante, cobre tudo,
fechando, até mais nada restar senão nós os dois. Sinto a minha garganta
a começar a fechar e os meus olhos a encherem-se de lágrimas porque sei que são
horas de partires. O olhar que me lanças naquele momento persegue-me. Sinto a
tua tristeza e a minha própria solidão, e a dor do meu coração, que permanecera
silenciosa só por um pequeno intervalo de tempo, torna-se mais forte quando tu
me soltas. E então estendes os braços e dás uns passos para trás, desaparecendo
no nevoeiro porque ele é o teu lugar e não o meu.
Anseio por ir contigo, mas a
tua única resposta é abanares a cabeça porque ambos sabemos que é impossível. E
eu assisto com o coração a partir-se enquanto desapareces lentamente. Dou
comigo a esforçar-me por lembrar tudo acerca daquele momento, tudo acerca de
ti. Mas depressa, sempre demasiado depressa, a tua imagem desaparece e o
nevoeiro recua para o seu lugar longínquo e eu fico sozinho no pontão e não me
importo com o que os outros pensam quando baixo a cabeça e choro e choro e
choro.