No vai e vem do dia, na correria entre o trabalho, a casa, os filhos e as obrigações deixamos de ter tempo para parar. Para refletir. Para apreciar o que o mundo nos oferece de bom. E neste ritmo alucinado esquecemos que a vida não é um palco que nos permite voltar atrás vezes sem conta e corrigir o que, mesmo sem querer, fizemos mal. De voltar a apreciar o primeiro sorriso dos nossos filhos, da alegria dos seus primeiros passos. Eles crescem. De voltar a sentir a intensidade do primeiro amor. De sentir o cheiro a café e a torradas na casa da avó porque a avó já partiu e não mais voltará a sorrir quando entramos ainda de pijama e ensonadas na cozinha.
Não, a vida não permite ensaios. Não permite a antevisão do futuro, nem corrigir as falas e as ações cometidas ao longo do tempo. Somos atores principais numa peça sem ensaios em que a estreia é o aqui e agora.
Não existe um guião pré definido que pode ser seguido à risca e que se a fala não soar ou a ação não envolver pode ser alterado e revisto e voltar depois a ensaiar a cena.
Não. A vida quer-se neste instante. A vida quer risco. A vida quer asas para voar e sonhos para realizar. A vida quer o sopro de ar fresco nas manhas de Primavera, o calor agreste das tardes de verão, as cores do fim de tarde do Outono e o arrepio na pele do frio do Inverno.
Não. A vida não é um palco em que nada se arrisca, em que as personagens sabem de antemão que o emprego foi conquistado, que o amor é correspondido e em que cada passo sabemos sempre onde ir e como irá ser desfecho final. Deixemo-nos então perder na cena real da vida para que possamos enfim ser encontrados por nós mesmos.
No palco da vida há que arriscar, há que aprender a cair e a levantar em cada desilusão. Aprender a entregar-nos e a aceitar que as lágrimas fazem parte do crescimento interior. Acreditar que o verdadeiro amor existe e que algures, entre palcos, encontraremos o abraço que será eterno e a alma que se fundirá com a nossa no encaixe perfeitamente imperfeito de dois seres!