quinta-feira, 25 de novembro de 2010

FUI EMBORA


Não trago mais saudade, fui embora!
As lágrimas esqueci e os silêncios do meu ventre
ficaram num barco partido à deriva dum sol esquecido
... estou ausente do teu mar
fui chuva na despedida
e agora, vento solto!

Não trago mais saudade, fui embora!
Minha alma, pendurou o suco das tardes
e dos medos, inquietas quimeras de tambores
arrastados por sons acumulados
no tempo da minha mente...
... não trago mais saudade, fui embora!

Se continuares à minha janela, já lá não estou!
Meus sentires foram seiva pelo meu corpo a dentro,
fui o que fiz e fiz de mim meu pensar
e das ingénuas tréguas, queimei longas tardes
esqueci de mim por ideias da tua presença
não trago mais saudade, fui embora!

Silenciei pássaros de longe alcance
dentro do peito cantei-os, dia e noite
dos meus poemas acendi velas,
sustentei caricias e voei
voei num veleiro distante do teu fogo...
... isso é amor?

O perfume que me vestiu, não sabes
mas foram singelas estrelas cadentes...
... acolhi-te em cada uma delas
como espartilhos e notas de musicas suaves
não trago mais saudade, fui embora, parti!
Parti também o desespero da velha guitarra
e das cordas dos meus momentos,
deambulei pelo grito da vida para ouvir-te num eco, 
mas nunca te ouvi!
Por isso fui embora...
... a saudade não trago mais!

O espírito que me embarcou não é meu, aprendi!
Do frágil da amargura fiquei cansada
e da palavra que nunca chegou, despi tuas flores
que murcharam de fantasia...
... posso imaginar-te nas letras que vou sonhando
... posso sonhar-te nos dedos das palavras que calo
mas querer alcançá-las, não quero!
Não trago saudade, moldei meus vestidos e fui embora!

As pétalas dos sonhos que construí nos meus cabelos
fizeram das cerejas armas
e os perfumes permaneceram duvidas.
Porque derrubaste-me em explosões de afectos
dentro da prisão do teu jogo
senti cada dardo jogado
como anfitrião castigado
e do divino que fui guardando em beijos ternos
troquei mares revoltos por mares ansiados
... nunca vi luzes azuis!
Nem violetas salpicadas de cor...
... só vi sombras dilaceradas
e ternuras ávidas, sem sabores!

Meus textos são mais amáveis? Agora não!
Não trago saudade, fui embora!
E nem o cheiro do meu imaginário
me há-de castigar mais!
Esqueci-me do mar gelado, que morreu,
por isso parti, 
fui embora para não matar meus desejos
nem meu extasie poético que se transformou...
fico na fé declamada
e se me quiseres lembrar, terás teu silêncio
a ouvir aplausos que nunca me deste!


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