Num pedaço de papel branco risco
a preto a dor que por vezes me dilacera e
apago as lágrimas que teimosas insistem em cair. Pinto de cinza os meus sonhos
e com negro cubro os desejos que gritam em meu peito e que queimam a pele
quando de noite em sonhos te sinto chegar.
Vejo-me de novo perdida num mundo
que durante tanto tempo guardei no sótão fechado, cuja chave enterrei bem
longe, sem mapa para nunca mais a encontrar. Quis o destino que por um acaso na
mesma tropeçasse.
Tenho medo do encontro que nunca
há-de chegar. Não quero que vejas alem dos meus olhos e descubras todos os meus
sentimentos que teimo em esconder. Tenho receio de olhar nos teus olhos e de me
encantar com o brilho que deles emana, levando-me de novo a sonhar o
impossível. Escondo-me nas frases que trocamos, guardo nas entrelinhas os meus
segredos para que não consigas enxergar que no mais íntimo da minha alma, no
recanto mais recôndito do meu coração caminho de encontro a ti.
No silêncio da noite ouço a
melodia do amor, anseio pelo teu toque, pelo som da tua voz sussurrando em meus
ouvidos e sinto-me à deriva.
Nas palavras que te escrevo
coloco o cuidado para que não percebas o amor que cresce em meu peito, a
vontade de te amar com toda a intensidade. Guardo-me, pois não quero ser para
ti um singular rosto no meio da multidão, não quero que saibas que quando em ti
penso sinto que alcanço as nuvens e as estrelas e que nesse momento a distância
traz-me a saudade e a incerteza dum futuro que nunca será real. Uma saudade de
algo que não vivo e nem sei se viverei.
Não olhes para mim, para que não vejas no meu olhar o quanto de ti existe dentro de mim!