Há dias em que me sinto
vazia, como se um cansaço imenso e letárgico se tivesse instalado sem pré-aviso
e me tolhasse o coração e o espírito. São dias em que acordar é pior do que ter
um pesadelo e levantar-me da cama parece mais difícil do que atravessar o
Atlântico a nado.
Manhãs submersas em
recordações e saudades, a sonhar calada tudo o que quis e nunca tive, mais o
que mereço mas ainda não alcancei.
Um pequeno excerto de um
livro, apenas isso...É engraçado como por vezes as palavras que lê-mos
conseguem vestir-se em nós como uma roupa feita pela melhor modista do mundo,
ou direi antes estilista porque modistas e costureiras era no tempo da minha
avó. E tal como os nomes, cada vez mais pomposos, cada vez mais cheios de
estrangeirismos, cada vez mais vazios e sem essência, assim são as pessoas de
hoje.
Tenho dias em que fico
para aqui a pensar e tal como a Margarida diz no seu texto sonho calada tudo o
que quis e nunca tive ou que ainda não alcancei. O tema habitual das conversas
nos últimos tempos é a crise, a falta de dinheiro, as dificuldades, mas o mais
engraçado é que a maioria das pessoas apenas sente na pele e lhes dói quando as
situações são monetárias. Se lhes faltar as pessoas, o amor, a amizade tudo
bem, desde que não mexam na minha carteira. Como um dia ouvi de alguém, mais
vale sozinho e com dinheiro no banco, do que pobre e com uma pessoa ao
lado.
É por este sentir
universal, que se propaga no ar como um vírus fatal que existem dias que o
melhor seria realmente não acordar. Tudo gira à volta de dinheiro, de poder, de
satisfação própria...tudo gira apenas à volta do próprio umbigo tal e qual
Narciso.
Mas o que esquecem é que
Narciso era um belo rapaz que todos os dias ia contemplar a sua própria
beleza num lago. Estava tão fascinado por si mesmo que não comia, não bebia
para não se afastar nem um segundo da imagem no lago não dormia.
Definhou. Morreu, afinal, de fome, de sede, de exaustão.
E como o narciso, vamos
morrendo um pouco a cada dia. Descartando sentimentos, utilizando o
"amo-te" como se fosse um simples bom dia, sem conteúdo, facilmente
substituido. Esquecemos que Amar é cuidar quando a pessoa fica doente,
assistir aquele filme chato com cara de feliz, é trazer aquele doce que sabemos
que pessoa adora, é olhar nos olhos e já saber o que a outra pessoa está
sentindo, é sorrir só de ver o outro sorrindo, é abraçar e dar o ombro para
chorar sem perguntar absolutamente nada, , é sentir-se preenchido.
Será esse o destino que
queremos para nós???