Nada na vida é certo. Talvez seja esta a única certeza que
conseguimos ter ao longo da nossa vida. Um dia sorrimos e sentimos dentro de
nós uma felicidade tal que achamos que não haverá vento ou tempestade que possa
abalar essa nossa frágil alegria. Sentimos que a luz que nos ilumina possui a
intensidade de mil sóis e que nunca a escuridão poderá penetrar nesse brilho
que nos cobre e que invade todas as frestas do nosso mundo.
Ilusão pura que cai sobre terra quando nos apercebemos que
na verdade caminhamos sem rumo, num destino ainda mais incerto que a própria incerteza.
Se olharmos bem, nem estrada temos para caminhar… Até o alcatrão que pisamos no
nosso andar é puro devaneio da nossa imaginação. Ansiamos desesperadamente por
uma segurança que se veste de fino cristal, que num leve toque se estilhaça no
chão, espalhando ao redor mil pedaços de dor, angustia e lágrimas.
Cremos na miragem desenhada em cada acordar e nesse amanhecer
renovamos a lúgubre esperança, enganando, disfarçando, mentindo…precisamos da
certeza como do ar que respiramos e agarramo-nos ao muro que construímos, como
lapa à rocha, no receio de perder a certeza do que até hoje construímos.
Desistimos dos sonhos, escondemos desejos, matamos a
esperança, ignoramos o amor apenas porque nos apavora a certeza que a incerteza
nos trás, sem nos apercebemos que a beleza que nos cerca, que a felicidade tão
desejada só é alcançada na ousadia do incerto.