O fechar a porta doi...
Doi por
saber que nunca a ti cheguei. Doi por saber que nunca fui o alvo do café da
manha com torradas com leite do dia e sumo de laranja com uma rosa vermelha
colocada na bandeja, preparado com amor e carinho.
Nunca fui o calor do corpo na
noite que acorda para embalar os sonhos. Nem por uma só vez fui a que esta ao
teu lado no raiar do sol, nem tive o teu colo depois de um dia dificil, nem
partilhei o riso de alegria ou o choro da desilução. Doi ver toda uma vida
fugir-me por entre os dedos que nunca se entrelaçaram no aconchego do sofá.
Dói ainda mais saber que essa
porta nunca esteve aberta, que tudo o que para trás ficou foi apenas uma
miragem que se desenhou por uma pequena fresta de uma minuscula janela. Miragem
essa que se esqueceu dos contornos dos corpos suados, da boca pedindo outra
boca, de um coração batento em compasso com o outro coração, um ser fundindo-se
em outro ser.
O trancar a porta doi e enloquece
a alma que grita com tamanho furor que provoca o tombo do corpo que cai inerte
nos despojos de um “se” que nunca se tornou real. E no som da fechadura, que
range em agonia ao rodar da chave, passo a ser silêncio. Um silêncio embrulhado
em saudades, num coração que se veste do avesso, cansado, ferido, machucado...
por querer demais, por se sentir sosinho na madrugada fria...e no calar das palavras
parto mesmo querendo ficar.
...e doi
ainda mais saber que a deixaste fechar!