terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

Cansei...


A vida é uma estrada que vamos desenhando à medida que caminhamos. Olhamos para trás e os nossos olhos são inundados de cores, de cheiros, de sabores, de sentimentos, de tudo o que já fomos, dos momentos que já vivemos, das pessoas que nessa estrada caminharam connosco, dos risos e dos choros, das derrotas e das vitórias. A estrada da vida é feita de traços delineados pelas nossas mãos e apenas somos capazes de olhar para trás pois à frente ainda permanece uma folha em branco à espera de ser preenchida. Somos nós o Miguel Ângelo da nossa existência. Cabe a nós escolher as cores com que pintamos o nosso mundo. Cabe a nós deixar entrar na nossa estrada e nela permanecer as pessoas que nos fazem sorrir, que nos fazem desejar transformar os precipícios em pontes, as montanhas em planícies verdejantes, os campos áridos em jardins repletos de cheiro e cor.

Cansei do cinzento escuro que cobre os céus, cansei do castanho lamacento que inunda a terra, cansei dos buracos fundos que rompem o chão. Desilusão, tristeza, mágoa, decepção...

Podem agora dizer que tudo são frases feitas, que tudo não passa de parvoíces, de palavras sem sentido...sem sentido é a mentira, é o engano. Sem nexo é a capa que se veste bordada a sentimentos e ao virar a esquina se despe e se mostra na escuridão o que na verdade somos, sentimos e queremos.

A vida é bem mais que alcatrão, é bem mais que muros que escondem os enganos, as mentiras que dizemos e as verdades que ocultamos. 

De que adianta a hipocrisia,de que adianta a mascará que acaba sempre por cair, de que adianta exaltar o vermelho se no fundo é do preto que gostamos. 

Cansei...quero mesmo é pegar na palete de cores, nos pincéis com cerdas finas, e desenhar o sol bem lá no alto, e o rio a correr fluido no vale. Quero mais é gente que se exponha, que se abra ao mundo, que entregue o coração, que fale com a alma, que ame tão intensamente que tudo ao seu redor ilumine. 

Quero abraçar os amigos, e rir até que a barriga doa, até que as lágrimas escorram. Quero um beijo profundo, quero o toque de paixão na pele, quero o olhar de desejo sentido, quero a verdade dos sonhos, quero a certeza da cumplicidade, da confiança, quero abrir os olhos ao acordar e ver ali, junto a mim um olhar a brilhar de amor e sentir no peito a certeza que não existe melhor lugar no mundo para se estar!


Quero (re)desenhar o meu mundo...

quarta-feira, 8 de fevereiro de 2012

Porto de Abrigo


Desde muito cedo aprendi a ser sozinha...sozinha com os trabalhos de casa que trazia da escola, sozinha nas perguntas que surgem quando começamos a crescer e que eu procurava resposta nos livros da biblioteca e junta das minhas amigas que sabiam tanto ou menos que eu, sozinha na responsabilidade de crescer quando me vi com uma menina nos braços, quando eu também era uma criança.
Mesmo quando o meu pai morreu, mais uma vez sozinha tratei de tudo o que se deve tratar nesses momentos e arranjei espaço e forças para cuidar da minha mãe, da minha filha ainda pequena, do trabalho, da casa... 

Houve momentos em que deixava que o meu marido cuida-se de mim, que me protegesse nos seus braços, para sentir que eu ainda era de carne e osso. Confesso que adorava a sensação de estar no seu colo, de sentir todo o amor que ele me oferecia, de estar no meu porto de abrigo. 

Mas acho que deixei de esperar seja o que for dos outros. É comigo que posso contar e sempre assim será. Só há bem pouco tempo, e depois de uma noticia nada agradável é que alguém esteve ali ao meu lado. É nesses momentos que sabemos com quem podemos contar. Sem eu pedir, sem nada falar ela estava ali. Mais ansiosa que eu, com mais medo que eu...A mão de uma amiga para apertar e um ombro para chorar, se preciso fosse. Não sabia o amanhã e por momentos pensei que Deus tinha resolvido brincar comigo e colocar-me à prova. Pois bem, mais uma montanha atravessada. 

Tenho noção que as pessoas acham que sou demasiado independente, egoísta, orgulhosa, mas no fundo sei que assim não sou. Raramente a minha preocupação é comigo. Sempre pensei mais nos outros. Falo o que quero, caminho por onde me apetece, caio e levanto-me sozinha e volto de novo a cair, mas os outros estão sempre presentes nesta minha viagem solitária.

Apesar de tudo há dias em que só me apetecia voltar para um colo, para um abraço que me envolvesse e me deixa-se ali ficar, protegida de tudo e de todos. Sei que não preciso, sei que consigo ergue-me pelos meus pés, mas só queria, por uma vez ter alguém que me pegasse na mão e me disse-se "vou cuidar de ti"!

terça-feira, 7 de fevereiro de 2012

Qualquer dia...qualquer hora...


Existem musicas que nos fazem desejar voltar o tempo atrás!

Um dia...


Depois dos 30 a vida deixa de andar em velocidade de cruzeiro e resolve apanhar um avião a jacto como se de um momento para o outro houvesse muita presa de chegar a lado nenhum. Passamos o tempo a desejar que os minutos não se transformem em segundos, mas o relógio não para. Deixamos para trás alguns sonhos, guardamos na gaveta muitos projectos, esquecemos até de como andar e percorrer novos caminhos. 

Olhamos para trás e percebemos que andámos 30 anos a sonhar e a querer e que fomos protelando o que desde pequenos sempre desejamos: ser felizes.

É estranha esta sensação que nos percorre de um tempo que passa por nós, alucinado, como um comboio a alta velocidade, sem permitir sair nas estações, nem nos apeadeiros. Quando nos apercebemos estamos quase nos 40 e os planos ali continuam, sem força para acompanhar tamanha velocidade. Em cada fim de ano, tomamos um copo de esperança e com garra e determinação pegamos na caneta e numa folha de papel reescrevemos os mesmos objectivos, vezes sem conta. E essa mesma folha é esquecida lá no fundo da gaveta até que um novo ano se faz sentir e lá vamos nós de novo. 

É tão simples escrever, tão fácil desejar, tão complicado agir. Aos 20 a vida era como um farto rio, cujas águas corriam límpidas e serenas de encontro ao mar. O que aconteceu depois dos 30? Seremos nós pessoas diferentes? Não julgo que sejamos. Deixamos foi de acreditar. Acreditar no impossível, acreditar nas pessoas, acreditar no amor.

Um dia destes pego na minha lista de fim de ano, no pára-quedas e saiu deste avião. Jogo-me por entre as nuvens, paro o relógio e vou a correr atrás dos meus sonhos.

domingo, 5 de fevereiro de 2012

Amor sozinho



Não entendo porque às vezes complicamos demasiado a nossa vida. Porque não ouvimos aquela voz interior que nos aconselha e nos chama à razão. Acabamos sempre numa guerra sem tréguas, em que os despojos são o nosso coração. Por vezes escutamos de terceiros as palavras que nós já tantas vezes ouvimos internamente e fechamos os ouvidos porque não queremos, não gostamos de acreditar que fomos enganados...que somos diáriamente, continuamente iludidos.

Por vezes vivemos na mentira e nem nos damos conta que o outro só esta ali por estar, segurando-nos de toda a vez que dizemos ”vou embora”, fazendo-te falsas promessas, assumindo o papel de vítima,  e no final das contas continua tudo igual, com indiferença, com prioridades das quais tu não fazes parte, pois existe sempre algo que impede de fazer seja o que for, há sempre desculpas, há sempre senões, como se  tu fosses apenas mais uma. 

Passamos a viver os dias entre o branco e o preto, sem emoções, sem carinho, sem calor, fechados numa bolha que só nos permite olhar o mundo, mas não tocá-lo... esse é o amor mais dolorido, pois nunca sabemos se estamos solteiras, mas também nunca estamos acompanhadas...e tudo isto ouvimos caladas, porque lá no fundo sabemos que um amor sozinho é solitário demais, abandono demais, e que no final merecemos muito mais!