A tarde estava no fim e o
vento já começava a soprar frio, enquanto o céu ganhava um tom de laranja. A
sangria estava a saber-me bem depois de mais um dia de trabalho. As outras
mesas estavam já vazias com excepção do senhor já com uma certa idade que lia o
jornal com os óculos colocados quase na ponta do nariz. Enquanto os meus olhos
percorriam o espaço ao redor Teresa continuava falando e queixando-se da
relação com o namorado e em como já não aguentava mais a mentira e a
desonestidade que faziam parte da pessoa com quem partilhava a cama. Daniel
parecia estar virado para dentro de si, submerso nos seus próprios pensamentos.
- Não sei o que estas à espera
para colocares um ponto final nessa história – disse-lhe assim que o reportário
de queixas abrandou.
- Ele faz asneira mas depois
pede desculpa e diz que me ama, que não quer que eu vá embora. – desculpou-se,
mais para si mesma do que para nós.
O som de um isqueiro entoou no
ar e depois de enalar o fumo e deixa-lo sair com cuidado para que não
incomoda-se ninguém, Daniel virou-se para Teresa e com uma voz calma disse-lhe:
- Ele diz que te ama, então
esta tudo bem, não é? Assunto encerrado.
Teresa moveu-se na cadeira e
olhou para ele com um ar espantado, como se estivesse a ouvir uma enorme
barbaridade. Ele continuou:
- Sabemos que somos amados
quando ouvimos a palavra mágica, mas uma coisa te digo, apesar da minha idade.
Saber-se amado é uma coisa, sentir-se amado é algo bem diferente. Existe um
diferença de milhas, um espaço enorme de diferença. O amor é muito mais do que
palavras. É necessário verbaliza-lo sim, mas também é necessário beijos, sexo,
abraços, carinho, cumplicidade, respeito. É ainda mais que um pacto de sangue.
É um pacto de silêncio que tem de ter a força para manter e fazer crescer raízes,
um pacto para a eternidade. Sentir-se amado é sentir que a outra pessoa tem interesse real na tua
vida, que zela pela tua felicidade, que se preocupa quando estás triste, que
sugere caminhos para melhorar, que está sempre lá para o que der e vier, que te
diz que aconteça o que acontecer “eu estou aqui e vamos estar sempre juntos
para o bem e para o mal”. Sentir-se amado é perceber que as atitudes da outra
pessoa nunca te fazem chorar, nem magoar e quando isso acontece essas mesmas
acções nunca mais se repetem. Sentir-se amado é perceber que a outra pessoa
lembra-se de coisas que contaste dois anos atrás, é procurar amenizar a dor do
outro e não faze-lo sofrer mais ainda com gesto ou palavras. Sentir-se amado é
sentir-se por inteiro na vida da outra pessoa, é quando não existe assuntos
proibidos ou espaços que não são permitidos ao outro entrar. Sentir-se amado é
sentir-se seguro, protegido e acima de tudo o mais importante na vida do outro.
Por isso ouve bem o que te digo: amo-te não diz tudo, não diz quase nada!
E o silêncio se fez sentir...
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