Sentada junto há janela, olhando a lua brilhando lá no alto
ela recorda com saudade e solidão o tempo em que sentia o amor em cada canto da
casa, no cheiro dos lençois, no ar quente da casa de banho depois do duche, no
aroma a café e torradas que inundava o ar, no riso que fazia parte dela sempre
que ele a agarrava por trás na hora de preparar o jantar, enquanto as crianças
brincavam no quarto.
Foi no tempo em que os segredos não existiam, em que não
havia dois espaços, dois mundos, dois seres. Era como se ambos fossem um só, um
era o outro. Não era preciso palavras, bastava o olhar. Os sonhos eram
construidos a dois. Todas as portas e janelas estavam abertas. Não existia
medos, receios, mentiras, desilusões. O desejo de um era o desejo do outro. Mesmo
no som da música que ele adorava e ela detestava o entendimento era algo que
surgia normalmente.
Sem se dar conta as lágrimas escorrem-lhe pela face e o
coração aperta bem lá dentro do peito. Ela sabia que nunca mais iria ter com
alguém essa mesma cumplicidade, essa união perfeita de almas, de coração e de
corpos. Sabia que ela era tudo para ele e até um certo momento ele foi tudo
para ela.
Mas hoje, ali sosinha, longe um do outro há muito anos não
consegue evitar a dor de perceber que nunca mais terá alguém em quem possa
confiar, um colo onde possa descansar no final de um dia de trabalho enquanto
sente os seus cabelos a serem afagados, alguém que lhe leia a alma e o coração
como se fosse estivesse no seu corpo, alguém que não precise se afastar e
isolar pois o mundo dele era no seu todo o mundo dela.
Um último olhar para a janela e encolhe os ombros assumindo a
derrota...queria um amor maior e agora percebe que já tinha um grandioso
amor...
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