domingo, 10 de junho de 2012

Circo sem tenda



Os sentimentos são por vezes o pior inimigo. Tapam os  ouvidos, os olhos ficam enovoados, a boca ganha vida gritando palavras que mais tarde pensamos “como é que eu disse aquilo”, transformam o nosso cérebro num ser à parte, dotado de personalidade própria. Deixamo-nos conduzir pela sensação de raiva, de ódio, de amor, de carinho. O nosso corpo deixa de ser nosso e passa a navegar nesse turbilhão de emoções que queima a pele e que nos faz agir feito marionetas comandadas por uma força superior.

E tudo em nós é emoção, mesmo quando vestimos a capa da frieza, mesmo quando mostramos ao mundo que somos feitos de um ferro que nada nem ninguém consegue perfurar. E é nesse escudo que nos escondemos, ferindo-nos para não ferir, calando para não gritar, sorrindo para não chorar.  

Há momentos que só nos apetece deixar explodir, que queremos abrir os pulmões e deixar sair todas as perguntas sem resposta, todos os pensamentos guardados, todas as dúvidas que sufocam como um veneno lento que nos mata todos os dias um bocadinho.

Mas é preciso calar, fingir, aprender os gestos e a forma da sociedade. Uma sociedade que não entendes, que repudias, que te causa por vezes naúseas, que te faz querer esconder, mas perante a qual te encontras nua e exposta, como um alvo iluminado.

É preciso dizer que se entente a hipócrisia, a mentira, a falsidade, o jogo do mais forte, as palavras que magoam, os gestos que ferem, as atitudes que criam chagas, um gosto de ti mas esqueço que tu existes...É preciso sorrir e ser gentil quando ouvimos alguém dizer que gosta de amarelo, mas tudo o que tem é vermelho.

E assim forçamos o sorriso e caminhamos sem saber para onde ir e como ir, tentando agir imitando os gestos, as palavras, as acções, guardando dentro de nós o mundo em que acreditamos,  para que não sejamos a aberração deste circo sem tenda e sem risos!