Tenho uma lágrima presa em meus
olhos, que teima em querer sair. Tenho no peito a dor que me dilacera por
dentro que insiste em explodir. Tenho medo de não mais saber sorrir. Não, não
vou chorar, não não vou deixar a voz gritar este tormento. Vou apagar as luzes
e deixar que esta sensação se dilua na escuridão. Fecho os olhos e sinto
saudades.
Saudades dos planos que nunca fizemos, dos sonhos impossíveis que na
nossa vida nunca tentámos construir. Saudades das doces palavras que nunca
ouvi, da vontade e do desejo de nos entregarmos de corpo e alma um ao outro que
nunca existiu. Tenho saudades do que
nunca vivemos . Tenho saudades da nossa história que nunca aconteceu, dos
segredos que nunca contamos. Tenho saudades das juras e das promessas que
sempre foram mudas entre nós. Tenho saudades de um tempo que nunca foi, de um
casamento qe nunca se realizou, dos filhos que nunca nasceram, da cama que só
dividimos mas nunca foi preenchida. Saudades do futuro que não vivemos e que
será vivido por outro alguém.
Sem querer
vou de encontro às lembranças. Abro a
caixa das recordações e de novo a saudade...vazio, apenas vazio no fundo de madeira. De novo a saudade
de olhar a rosa já murcha que nunca me deste sem eu esperar, do postal a
dizer “sem ti a minha vida não tem sentido”
que nunca escreveste, saudade de um meio coração que deveria estar no
meu pescoço pendurado e a outra metade no teu que nunca foi comprado. Saudade de recordar os lençois
que nunca se cobriram de flores, das velas que se mantêm intactas e nunca foram
compradas, de todas as loucuras que nunca tomaram forma...saudade de um amor
que nunca existiu. Contenho as lágrimas, sufoco o grito e tranco a caixa...