Existem muitas situações perante as quais devemos deixar de
lado os floreados, a poesia, o romantismo. Nesses momentos a razão deve ser
soberana e sermos capazes de olhar a realidade sem nenhum véu a deturpar a
nossa mente. A dor faz-nos esquecer e pintar de outras cores a morte do amor.
Sim, porque o amor morre e nós, simples mortais, recusamos com todas as nossas
forças olhar de frente o vulto negro da morte. Durante muito tempo tapamos os
ouvidos para que até nós não chegue os gritos de socorro. Recusamo-nos a ouvir,
não queremos enfrentar e não percebemos que fomos nós mesmos que matamos esse
sentimento.
No fim perguntamo-nos: porquê? Mas porque tinha que acabar?
Os sinais estão ali e egocêntricos que somos nem lhes
ligamos. É uma fase, pensamos. Idiotas que somos.
Fingimos que não percebemos que já não fazemos amor com a
pessoa amada e quando fazemos é algo mecânico, sem paixão, sem vontade. Nem tão
pouco sentimos mais desejo.
Já não pensamos no outro quando o sangue corre mais
rápido nas veias. Iniciamos aí os preparativos do homicido do amor. De repente
passamos a olhar para outros rostos, para outros corpos, e continuamos a negar
que já não existe mais amor.
Já não nos importamos com o outro, não queremos saber da sua
vida, o que faz, os seus sonhos, a sua tristeza.
Passamos a viver num estado de guerra. Tudo o que outro faz
ou diz passa a ser motivo de discussão. E continuamos a negar a morte do amor.
O silêncio passa a ser dono e senhor de todas as ocasiões. A
vontade de partilhar é algo que ficou bem longe no tempo. As frases curtas de
ocasião passam a ser constantes e nem sequer nos importamos em disfarçar. E
continuamos a negar que o amor acabou.
A saudade de voltar a sentir começa a pesar e o vazio nos
avisa que está perto a hora. Então um
belo dia, um dos dois acorda e veste o manto da coragem e o mundo desaba. O
pesadelo começa e a pergunta já há muito respondida pelos sinais entoa:
Como não
percebemos antes?